Eu podia viver no 24º andar de um prédio onde não houvessem mais vizinhos por cima. Um 24º andar onde os vizinhos do lado fossem emigrantes e os de baixo uns idosos que não fizessem barulho absolutamente nenhum, nem gemessem durante a noite nem nada. Podia viver num 24º onde não se ouvisse o trânsito lá de fora nem as conversas das velhas cuscas. Um sítio onde fosse sempre Primavera e onde se ouviriam os passarinhos a cantar. Podia viver num sítio sossegado e maravilhoso, um verdadeiro cantinho no céu... Mas não vivo! Bem pelo contrário... Vivo num 1º andar onde tenho o privilégio de ter uns vizinhos absolutamente fantásticos: a de cima é viciada em limpeza e anda sempre agarrada à porcaria do aspirador (sim, falta-lhe um marido e um monte de putos para aturar), os do lado têm uma criança relativamente pequena que adora dar uns belos berros de vez em quando e para completar o quadro fabuloso faltam os vizinhos de baixo. Esses sim são absolutamente fantásticos, maravilhosos, os meus favoritos. Ora bem, no apartamento vive um casal conflituoso (ela está grávida, andam sempre aos berros um com o outro, raras são as vezes em que não se ouve ela a chorar e ele a bater com a porta), a mãe da excelentíssima grávida (que é uma senhora maravilhosa que fica a olhar para mim com cara de anormal cada vez que me vê e se me atrevo a dizer bom dia ou boa tarde, não me responde, limita-se apenas a emitir um grunhido imperceptível) e ainda, para completar o quadro, vive também, no mesmo apartamento, a avó da senhora grávida (avó essa que nunca sai de casa e que eu apenas sei da sua existência devido à tosse nocturna e ao fantástico relógio que a cada hora dá as baladas - sim à meia-noite toca doze vezes, absolutamente maravilhoso).
Mesmo à frente da minha janela da sala vive um desgraçado de um cão. Coitadinho, é novo por estes lados e ainda não se habituou à solidão. Passa o dia a dizer mal da sua vida, a queixar-se para quem o quiser ouvir (e eu que não quero, gramo-o na mesma!).
Uma das ruas mais movimentadas aqui do sítio passa mesmo à frente de minha casa... Absolutamente fantástico...
Eu podia viver num sítio paradisíaco... Mas não vivo!
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